Abraçando Uma Viagem Solo: 5 Dias pelo Leste do Canadá

Eu ja tinha ouvido falar diversas vezes que embarcar em uma jornada solo pode ser uma das experiências mais libertadoras e desafiadoras da vida. Conheco algumas pessoas proximas que me disseram "quando voce passar pela primeira viagem solo, voce nunca mais vai deixar de fazer". Foi acreditando nisso que enfrentei meu medo, e decidi fazer minha primeira viagem sozinha: uma road trip (viagem de carro) no lado leste do Canada.



Não foi uma viagem só para me levar a lugares novos, mas também a um mergulho dentro de mim em uma oportunidade de encarar o medo e validar que minha presenca me basta tambem. Foi uma oportunidade de quebrar paradigmas internos e em varios momentos, principalmente quando eu estava em trilhas sozinha de estar com meus pensamentos e ate mesmo sentimentos dificeis que estava passando no dia e saber cuidar de mim com amorosidade, e empatia. 

Para essa minha primeira aventura solo, eu escolhi passear pelas provincias de Nova Scotia e New Brunswisk de carro, na costa leste do Canadá. A viagem durou 5 dias mas poderia ter durado mais porque tem tanta coisa para ver na regiao, mesmo assim valeu muito a pena. Eu comecei a viagem em Halifax, a capital de Nova Scotia e terminei em Moncton, New Brunswick. 

A Decisão de Viajar Sozinha

A ideia de viajar sozinha sempre me assustou e intrigou ao mesmo tempo. Já tinha ouvido inúmeras histórias de amigas que saíram em aventuras solo e voltaram transformadas, carregando consigo um novo senso de independência e autorealizacao. No entanto, o pensamento de estar completamente sozinha em lugares desconhecidos eram assustadores. Com quem eu iria conversar? E se algo desse errado? O que irao pensar de mim se eu me sentar sozinha num restaurante para jantar? Essas eram algumas das perguntas que passavam na minha mente.

Mas, à medida que o desejo de estar perto do oceano novamente e a atração pela belezas da costa leste do Canadá me conquistavam, decidi mergulhar de cabeça. Comecei a pesquisar as principais atracoes, cachoeiras, potenciais aventuras, pequenas cidades charmosas e pela promessa de liberdade em escolher o melhor roteiro para mim - sem precisar tirar ou adicionar o que outros podiam querer visitar no roteiro. Então, com uma mistura de empolgação e apreensão, comecei a planejar meu itinerário.

Dia 1: Chegada em Halifax

Comecei a viagem em Halifax, fui imediatamente tomada pela atmosfera de cidade na beira do mar,  uma vibe relaxada e bem turistica. O cheiro de mar foi facil de reconhecer e imediatamente ao inspirar , eu sorri. E esse ar salgado e o charme histórico da cidade foram um acolhimento importante nesse comeco. Antes de pegar o carro, eu deixei minhas coisas no Hostel, e ja sai para caminhar na beira do mar, na area de boardwalk da cidade. E la que a cidade vibra tanto para as pessoas locais quanto para os turistas, sao varios restaurantes, musica ao vivo, lojinhas... O clima estava maravilhoso, no finalzinho de julho, eu provei do famoso sorvete Cows e fiquei para ver o por do sol no waterfront antes de voltar para o hostel. 

Jantei em um restaurante de frutos do mar chamado Salt Yard Social à beira do mar e, embora inicialmente tenha sentido um desconforto por ser a única jantando sozinha, logo esse sentimento deu lugar a uma sensação de empoderamento. Eu estava ali, fazendo algo que queria fazer, observando nao so aquele lindo mar mas tambem as pessoas ao meu redor (ja ouviu falar em "people watching"?) e isso me fez sentir bem. Comi lagosta e mexilhoes, que por sinal foi basicamente o que comi todos os dias da viagem :)







Voltei para o hostel, fiquei no Halifax Backpackers. Por sinal foi a primeira vez que fiquei em hostel, e em um quarto coletivo e misto de genero. Em resumo, nunca mais. Eu praticamente nao dormi porque tinha gente que roncava alto, cama que fazia barulho quando mudava de lado, colchao horrivel... Mas tinha o basico suficience, banheiro limpo com choveiros, toalhas e lencois limpos. O cafe da manha era por fora mas a comida era excelente. Durante a semana eles promovem eventos sociais para ajudar a pessoas a se conectarem, porem como eu cheguei tarde da noite ja tinha terminado. Eu sai logo cedo no outro dia, entao foi apenas aquela noite mal dormida - talvez se eu tivesse alugado o quarto particular teria sido melhor. Outra licao! 

Dia 2: Um dia cheio: Halifax, Peggy's Cove e Lunenburg 

Na manha seguinte, fui visitar o porto da cidade, uma area com varias lojinhas de souvenir e ate mesmo uma cervejaria, e tambem a Citatel Hill, um forte que fundou a cidade de Halifax e serviu de defesa Britanica em 1749. O forte hoje é ponto turistico da cidade, com tours dentro do forte a cada hora (tanto em ingles quanto em frances), voce vera a apresentacao de gaita, artilharia, e aprendera muito sobre a historia do forte e da cidade. Gostei muito de ter feito o tour , a entrada custou $13.25 (ate 17 anos nao paga). Eu pude ate vestir a roupa dos guardas, eu tem muita influencia escocesa.














Saindo do Citadel, fui pegar meu carro alugado, e foi ai que senti uma onda de independência. Esta viagem seria do meu jeito, e essa percepção foi ao mesmo tempo emocionante e intimidante. Pe na estrada!

De Halifax, parti para Peggy's Cove. Peggy’s Cove, famosa por seu farol icônico situado sobre rochas de granito com vista para o Atlântico. A beleza crua deste lugar era inspiradora e, enquanto eu estava lá, com uma neblina que desceu de repente, uma chuvinha leve e o som das ondas quebrando nas rochas, senti uma paz e uma alegria profunda pelo que eu estava vivendo. 









Eu um vilarejo muito pequenininho, e totalmente voltado para o turisto ou pesca. E na antiga escola da vila convertida em espaco cultural, chamado The Schoolhouse, essa casinha vermelha na foto acima,  que é uma sala bem pequena na qual todas as series estudavam juntas ao mesmo tempo (afinal nao eram tantos alunos), eu assiti uma apresentacao de musica gaélica tocada com o instrumento "fiddle" uma espécie de rabeca, e até mesmo o sapateado, a danca tradicional de Cape Breton (Nova Scotia). Mais informacoes aqui sobre a Schoolhouse. 



De Peggy's Cove eu segui para Lunenburg, um Patrimônio Mundial da UNESCO conhecido por seus edifícios coloridos e rica história marítima. O itinerario original incluia uma parada em Mahone Bay, que fica no caminho - porem eu estava fazendo tudo muito tranquilamente e curtindo tudo sem pressa que achei melhor seguir para Lunenburg direto sabendo que eu ainda teria muita estrada no dia. 

A estrada ao longo da costa ate Lunenburg era de tirar o fôlego, com o Oceano Atlântico se estendendo de um lado e uma mata exuberante do outro. E ja na estrada a neblina sumiu e o sol apareceu, tornando a vista ainda mais linda. 








Em Lunenburg, perambulei pelas ruas estreitas, visitei rapidamente o Museu das Pescas do Atlântico e fiquei maravilhada com a arquitetura lindamente preservada. Foi um finalzinho de tarde de exploração tranquila, porém eu sabia que precisava ir dormir no hotel em Moncton, na provincia vizinha, new Brunswick. Entao peguei a estrada, e esse foi o mais longo trajeto de carro sem parar da viagem inteira - talvez eu nao planejasse do mesmo jeito se fosse de novo, mas isso tambem é parte de viver e aprender. 

Dia 4: Kayak em Hopewell Cape e o Desvio Inesperado

O terceiro dia foi um dos destaques da minha viagem. Eu dormi em Moncton, mas acordei cedo para pegar a estrada direto para Hopewell Cape, 35 min de carro, pois eu tinha reservado um tour de kayak no Hopewell Rock Park. Esse parque é famoso por seu "flowerpots", rochas esculpidas pela mare ao longo dos anos, as deixando num formato de vaso de flores. Nesse parque que se pode ver as maiores mudancas de maré do mundo, a diferenca entre mare baixa e alta pode chegar a 16 metros! Entao voce pode estar andando no fundo do mar na mare baixa ou nadando na agua na mare alta. 

Ao invez de visitar o parque e apenas caminhar, eu preferi fazer a o tour de kayak com a Baymount Outdoor Adventures. Valeu muito a pena, sao 2 horas de kayak, que saimos quando a maré esta alta e voltamos na mar é "média". Quem quiser ver a maré baixa pode ficar no parque, fazer trilhas ou so tomar um sol na beira da agua. A agua é barrenta, muita lama porque é numa baia, entao nao me animei em ficar na praia de la nem entrar na agua. O nosso passeio de kayak foi muito tranquilo, a agua estava paradissima e sem vento no dia, os intrutores sao muito atenciosos, animados e falaram que demos sorte por estar essa calmaria. O grupo tinha gente de todas as idades, criancas e idosos, achei um tour bem facil de fazer,  eles dao todos os equipamentos e instrucoes, e por usarmos kayaks duplos, se divide o esforco. Como eu estava sozinha, eu fui com um dos instrutores o que foi otimo - deixei ele fazer maior parte do esforco enquanto eu tirei muitas fotos e videos hehe.  











Foi aqui que tive minha primeira mudanca de planos baseada em dicas de uma moradora local. Falei sobre meu desejo de tomar banho de oceano, que nao fosse agua tao gelada. Porque a minha primeira ida no oceano atlantico na Nova Scotia, a agua era gelaadaaaaaa. E ela me indicou uma praia entre a divisa de uma provincia e outra (NS-NB) chamada Parlee Beach , dentro de um parque provincial. Eu que amo oceano e praia com areia fininha aceitei o desafio e dirigi de volta para Nova Scotia. Nao me arrependi! $20 para entrar, e me deparei com um mar lindo, bancadas de areia que faziam piscininhas com agua refrescante (nao era morna, mas estava otima para um dia de sol). Passei bastante tempo dentro da agua, amei! Sentindo a agua do mar, o sol, lendo um livro, tomando uma cerveja (escondida)... aquela tarde que eu amo!

Ter seguido o conselho, sem dúvida, foi uma das melhores decisões que tomei na viagem. Essa experiência me ensinou a importância de estar aberto a mudanças. Embora seja bom ter um itinerário, ser flexível e estar disposto a ouvir as recomendações locais pode levar a experiências inesperadas e memoráveis. 






Desafios Emocionais: Enfrentando a Solidão

No entanto, viajar sozinha não é isento de desafios emocionais. À medida que o dia na praia chegava ao fim e eu dirigia ao meu novo destino para dormir, cidade de Alma em NB, senti as primeiras pontadas de solidão. A empolgação dos dias me carregou pelos primeiros 3 dias, mas enquanto eu estava sozinha em uma charmosa pousada naquela noite, não pude deixar de me sentir um pouco isolada. Não tinha ninguém para compartilhar as experiências do dia, ninguem para bater um papo legal e relembrar durante o jantar.

Eu sabia que isso fazia parte da jornada – uma chance de ficar confortável com minha própria companhia, de aprender a estar sozinha sem me sentir solitário. E por isso abracei o momento e na cidade de Alma, depois de fazer o check-in fui jantar num restaurante. Pedi uma taca de vinho, e ate chegar meu prato de lagosta e mexilhoes, liguei para minha irma e depois para Oliver. Pude dividir um pouco do meu dia com eles e depois curtir o final da noite em minha propria companhia vendo os barcos chegarem do dia de pesca no mar:



Dia 5: Fundy National Park

Depois da serenidade da praia Parlee, eu dormi na cidade de Alma - NB, que fica do lado parque Fundy National Park que de acordo com minhas pesquisas seria o lugar ideal para o meu ultimo dia de aventuras. 

O Fundy National Park é de fato um paraíso para os amantes da natureza e trilheiros. O parque é gigante com mais de 200 km quadrados de mata, rios e cachoeiras. Os trilheiros vao amar as opcoes de trilhas em verios niveis. Ja os amantes de cachoeira, como eu, vao se deliciar e se molhar nas maravilhosas aguas cristalinas. Eu fiz um post sobre o meu dia no Fundy National Park entao vem ver esse post aqui


Foi de fato o final maravilhoso para deixar com gostinho de quero mais. Terminei a noite indo jantar lagosta de frente para os barcos que chegavam de seu dia de pesca. 


Dia 6: A Volta

Nesse ponto da viagem, algo havia mudado dentro de mim. Eu tive um dia de intensa alegria nas cachoeiras, e tambem momentos de profunda introspeccão enquanto andava sozinha nas trilhas. A solidão que inicialmente parecia tão assustadora ja tinha desaparecido, substituída por uma nova confiança. Percebi que essa viagem não era apenas sobre explorar novos lugares; era sobre explorar a mim mesma. 

Viajar sozinha me obrigou a confrontar meus medos e inseguranças de cara. Não há ninguém para te distrair dos seus pensamentos. É só você, o ambiente ao redor e quaisquer emoções que surgirem. Mas é através desse confronto que o crescimento acontece. Comecei a entender que a solidão não é algo a ser temido, mas sim abraçado como uma parte natural da experiência humana.

Ao refletir sobre a jornada durante o trajeto de volta para Moncton para pegar o aviao, percebi o quanto havia ganhado com essa viagem solo. Os medos e a solidão iniciais deram lugar a um senso de realização e autoconfiança. Eu havia navegado por estradas desconhecidas, iniciado conversas com estranhos e tomado decisões inteiramente por conta própria. Há uma alegria única que surge ao saber que você enfrentou desafios sozinho e saiu mais forte do outro lado.

Essa viagem de poucos foi apenas o começo. Ela acendeu uma paixão por explorar sozinha que sei que me levará a muitas outras jornadas no futuro. 




Comentários

  1. Incrível! Que bom que você deu esse passo. Parece que foi muito divertido!

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